Elíptico, extremamente condensado, interrogando tudo quanto poderiadistinguir a poesia dos usos comuns da linguagem, o texto de Crise deVersos é, ao mesmo tempo, um diagnóstico e uma profecia. Por um lado,procura surpreender a dissolução de versos tradicionais, em particular do alexandrino (o verso oficial por excelência), ao longo da segundametade do século XIX e sobretudo após a morte de Victor Hugo.Diagnóstico difícil de uma experimentação formal então ainda em curso: o que nos surge hoje como conquista definitiva e já distante (emtermos de livre invenção de metros, cesuras, formas gráficas) era notempo de Mallarmé um acontecimento recente, plural, a necessitar comurgência de teorização. Por outro lado, Crise de Versos antecipa aspoéticas dos modernismos e das primeiras vanguardas, ao enfatizar aprodutividade da tensão entre a busca de um princípio construtivo, que asseguraria a impessoalidade, e a dissolução das formas canónicas.