A PAPISA JOANA

A PAPISA JOANA

$28.775
IVA incluido
Sujeto Disponibilidad de Proveedor
Editorial:
(523).SISTEMA SOLAR
Año de edición:
ISBN:
978-989-8566-51-5
Páginas:
192
Encuadernación:
Otros
Idioma:
PORTUGUES
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Emmanuel Rhoides (1836-1904) tinha nascido nas Cíclades, já iamquarenta e um anos, e não eram alheios à sua erudição os privilégiosde um filho de embaixador que vivera em Génova, estudara literatura,história e filosofia em Berlim, levara a sua curiosidade arqueológicaao Egipto e aos restos da civilização dos faraós: tudo evidências deum bom tempo mais tarde enegrecido com o desastre financeiro dosRhoides, o suicídio de um irmão importante como sustentáculo dafamília arruinada, a sua demissão do lugar de director da BibliotecaNacional da Grécia (por causa de panfletos políticos que incomodavam o poder de Atenas), aquela esclerose dos tímpanos que nenhum médicoconseguiu travar antes da surdez. Em 1904 a morte levou-o em pobreza e nostalgia, e cortava-o, sexagenário, da Grécia terrena que ele tantotinha querido amar. A Papisa Joana («romance histórico», como lhechamou) continua a fazê-lo pai do melhor texto ficcionado até hojeescrito sobre o que parece supremo embaraço para uma regra central dareligião de Roma e causa de uma das agitações que entretiveram osmeios literários do século XIX. Acrescentou-lhe dois títulos, nenhumdeles ficção (Parerga em 1885 e Ídolos em 1893), hoje nas penumbras da literatura grega embora reconhecidos como brilho forte da suaerudição. A papisa [Joana], que no século XIX teria podido vir aexemplo para defesa dos direitos da mulher aos lugares «masculinos»que lhe estão vedados, só foi em Rhoides (ortodoxo ferido pelos cultos degradados e supersticiosos dos cristãos) um mergulho nas águasmedievais onde as religiões do Cristo viveram os mais negros dias dasua história. Fê-lo com ironia e sedução verbal, arrastando até à luzuma das suas lendas ou realidades mais incómodas ù o supremo ataquecontra a exclusividade masculina defendida pela interpretaçãoautoritária dos textos sagrados. E levou a termo uma cruzada deironização de bulas e relíquias, de baixas formas de fé que existiam e persistem nos permissivos tiques da religião popular, as que senomeiam com o pejorativo da palavra «crendices». Talvez com espanto do autor, a recuperação de uma «verdade histórica oculta pelo Vaticano», e através dela o exercício de «uma análise crítica do vinho religioso que na Idade Média os povos do Ocidente bebiam nas bulas dostaberneiros de hábito», acertou em cheio num escândalo. [AníbalFernandes]